Conexão Baixada - Pra Que Lutar Em Vão
- Jefferson Ferreira
- Nov 3, 2017
- 6 min read

Conexão Baixada é uma banda sem rótulos, viajando do rap ou rock passando pelo reggae, ragga e funk da baixada. A voz grave do Tubarão somado ao baixo de Ícaro Dreux, a guitarra de Leandro Ramajo, o saxofone do Índio do Sax e a bateria do Pinguim Ruas, sim o mesmo do Charlie Brown Jr e Bula Rock, trazem uma sonoridade das praias urbanas de Santos, cidade natal da banda no primeiro disco.de estúdio dos malucos, “Pra Que Lutar Em Vão”.
Como todo bom disco da cultura Hip Hop, “Pra Que Lutar Em Vão” vem com as participações de Jack Muller, dos rappers Dexter, Nego Jam (RZO), Gregory e Rappin Hood, além dos scratch do DJ Negralha, do grupo O Rappa.
A música que abre o disco é “Na Selva de Pedra”, introspectiva na visão de Tubarão, que deixou Santos para tentar os corres na capital paulista, destaque para a base de Hip Hop da faixa:
“Nascido e criado no meio da selva de pedra Onde a verdade é que a lei do mais forte predomina e impera De carona no vagão Caiçara de chinelo e sem grana Andando com destino ao metro Santana”
“Querubim”, traz participação especial de Jack Muller no backing vocal, track que traz um rap repleto de arranjos musicais, valorizando os músicos da banda:
“Pelas areias do deserto meu destino está nas mãos de Deus No horizonte vejo o sonho de poder chegar Vencer a guerra pra viver a vida ao lado teu Caminhando com a lembrança desse seu olhar”
A faixa três é “Pássaro Sem Dono”, que o público já conhecia antes do disco, porém vem repaginada, e sem a presença do JamaicaBoy que deixou a banda. O refrão melódico faz do rap uma para “pensar na vida”, como diz um trecho:
“Fiquei sentando pensando no meu passado Passado presente, recente, que não sai da minha mente Eu me perdi no mundão, qual é que é Tubarão Mais um guerreiro do rap resgatado pela Conexão Fiz um “du bom” pra relaxar e pra ficar na brisa Subi na laje na madruga pra pensar na vida”
A faixa seguinte é “Pra Que Lutar Em Vão”, que dá nome ao disco e possui ótimos scratchs e solos de sax, a música é um rap e vira para um refrão hardcore, e trata como tema sobre sonhos e como devemos permanecer em nossa busca para torna-los realidade:
“Eu acredito que a vida ainda vai mudar Eu acredito que o sonho ainda pode acontecer É só você acreditar Parar de ouvir a voz da trairagem Que insiste em perturba você”
A música cinco, “Talvez O Réu” traz a vibe do reggae mesclada com o rap em um som que fala sobre as decepções e ilustrações e o desejo de mudança:
“Acabaram com a vida e favoreceu quem tem mais Não quero dinheiro, só quero teu beijo Sobre as luzes do céu Acabar com a mentira que causa guerrilha Eu to na briga por paz”
A próxima faixa é “Lição De Vida” que flerta com o rock e mostra o peso dos instrumentos do grupo, a letra também traz as visões pessoais do Tubarão sobre como encarar os problemas e dar a volta por cima:
“Que nada é como antes Vivemos numa terra de gigantes Vamo que vamo na batida Uma passagem só de ida Um beco sem saída Na minha vida luto por dias de gloria Eu trago na minha memória a história de um lutador”
“Faroeste Caiçara”, música que tem uma construção similar a “Faroeste Caboclo”, do Legião Urbana, porém aqui apegada é mais Hardcore, num raggamurphin que conta a história de “Catito” que devido as dificuldades da vida entrou para o crime na fronteira entre Brasil e o Paraguai:
“Até que ele conheceu
Tião das Neves, muambeiro conhecido na fronteira de repente a oportunidade apareceu.
Pois foi num bairro de Assunción, capital del Paraguai, descobriu que um novo tempo ali estava a chegar,
dinheiro rápido na mão, no negócio de Tião, a missão parece fácil, resolveu se jogar”.
“Nuvens De Fumaça” é outra faixa que já havia sido apresentada em outra versão, antes do disco, também tinha a presença de JamaicaBoy na primeira versão, e traz as reflexões sobre o mundão, enquanto se faz nuvens de fumaça, sentado no banco da praça:
“Sentado no banco da praça,
nuvens de fumaça,
buscando no tempo que passa,
uma saída pra sobreviver,
não tô nesse jogo de graça,
quero ver a massa na paz
na correria com dignidade para sobreviver”.
A belíssima voz de Jack Muller volta na faixa “Incêndio” que tem um intrução que parece ter saido de um disco de vinil, a voz grave do Tubarão em cima de um beat mais suave e orgânico, ressaltando o baixo e a guitarra. A canção fala dos tombos que a vida nos dá e quanto podemos aprender com isso:
“Acho que agora aprendi o que é a vida,
to na procura da melhor, uma saída,
vivemos num mundo de falsidades, desilusão,
na fraqueza de pessoas covardes a traição,
uma peça que o destino traçou para nos fazer sofrer,
por outro lado uma lição para aprender.
O fim do sofrimento está dentro de você”.
A próxima faixa é “Já É Dia” que apresenta ótimos riffs de guitarra com scratchs do DJ Negralha, numa pegada rock n’ roll, mas sem esquecer as influências da praia, a música tem um flow mais acelerado, que diminui o ritmo nos versos finais, enquanto a letra lembra que toda correria será iluminada:
“Já é dia o astro rei está brilhando nas areias do deserto
iluminando a escuridão do mundo.
Já é dia, eu caminhei por essa selva de concreto,
pelo mundo dos espertos da radiação.
Sou correria, na batida eu sigo a trilha pelo certo
e meu futuro é incerto, salve sangue bom!”
A track 11 é literalmente “Uma Viagem”, marcada pelo clima pesado e tenso, ditado pelo piano do beat, e scratchs que roubam a cena, enquanto que o sax se apresenta timidamente até ganhar seu solo. A música segue a mensagem do disco, de encarar os problemas do cotidiano de frente e poder da a volta por cima, aqui Tubarão lembra da sua mãe, lembra dos anjos que nos protegem, e também do rap que salva vidas:
“Vem comigo que hoje eu quero te levar,
uma viagem loka através do som.
Vem comigo que hoje eu quero te levar,
Deus ilumine a família conexão”!
Talvez a música mais tensa do álbum, “Os Verdadeiros”, e a mais recheada de participações especiais, chegando junto DJ Negralha, Dexter, Nego Jam e Gregory, um rap boombap pesado com letra sobre o código de conduta para entrar e sair dos lugares enquanto que o piano vai marcando a tensão do beat, a faixa ainda tem samples de Dexter, “Salve-se Quem Puder”:
“Pra viver tem que saber caminhar, proceder,
atitude é fazer a palavra valer,
qualidade do ser é não abusar do poder,
e jamais dos humildes desmerecer”
O disco se encerra com “Rolê Na Baixada” e tem feat do Rappin Hood, uma.musica tranquila, feita para relaxar, um dia na praia tirando um lazer, com direito a ouvir as ondas que se quebram e som das gaivotas, linda harmonia:
“Vamo junto, vem comigo comigo num rolê no paraíso A baixada é mais que isso a baixada é só lazer Vamo junto, vem comigo num rolê no paraíso A baixada é mais que isso a baixada é só lazer”

O disco “Pra Que Lutar em Vão” traz uma mensagem de luta e perseverança, que vário o tom em algumas faixas, mas mantém a mesma essência do começo ao fim, fala de ilusões, medos, traições, conflitos internos, mas também fala de paz, sabedoria, de buscar o equilíbrio, por exemplo, na faixa que abre o disco “Na Selva de Pedra” vemos a personagem perdido, buscando uma saída para esse labirinto, a medida que o disco avança a personagem vai se encontrando, como em “Querubim”, “Pássaro Sem Dono” ou “Já é Dia” até finalmente poder descansar depois da longa caminhada em seus medos e erros e poder dar um “Rolê na Baixada”.
O disco é de rock, é de rap, é de reggae, é de poesia e é de muita musicalidade, trazendo os pilares de uma banda comum, mas sem fazer um som qualquer na bateria, baixo e guitarra, os scratchs e samples trazem a pegada underground do rapcore, e o sax vem para dar o charme, lembrar do jazz, e comprovar que o som dos maloqueiros tem classe, os solos fazem o ouvinte viajar para outra dimensão. O disco do Conexão Baixada é uma obra de arte, mostrando talento, harmonia entre gêneros musicais e dando a letra pros malandros do começo ao fim: “Malandragem de verdade é viver!”.
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