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OGI com o Pé no Chão


O ano lírico, como muitos chamaram, indo pro fim e o vovô Rodrigo Ogi surge com seu EP “Pé No Chão” que vem dois anos depois do seu último trabalho, o álbum “Rá!”. Por se tratar de um extended play (EP), o disco é curto, possui 7 faixas, e como próprio Ogi explica:


“O Rá! já tem dois anos e, hoje em dia, dois anos é muito tempo, principalmente para um artista como eu, que não é muito conhecido — você meio que vai sumindo do mapa. Conversei com o Nave e a gente separou algumas faixas que estavam muito boas para o disco, pegamos outras e colocamos no EP. Fiz mais três ou quatro sons e construí o Pé no Chão”


O trabalho apesar de curto traz muitas participações, colaram aqui Bruno Dupre, Kiko Duccini, Laudz, Marcela Maita, e na track “InSomnia 2" Emicida, Coruja BC1 e Diomedes Chinaski, além é claro da parceria com o Nave que foi o produtor do disco.


O EP abre com “Anjo Caído” que tem uma vinheta sobre a necessidade de escrever, por José Antônio, escritor falecido em 1997, e mostra a relação do rapper com o álcool, e nos diz que o álcool é perigoso até para os que estão acostumados a encher a cara é que “sabem beber”:


“Eu tô fraco e peço um forte sentado no bar Me desafogar e mágoas afogar”

Mas o bar é como um mar pra quem não sabe nadar Acha que dá pé e quando vê não dá”


A próxima música é “Nuvens”, a mais bonita do disco, a construção é foda, Ogi conta sua história, cresceu sem pai num bairro barra pesada e viu vários manos irem embora, depois perdeu sua mãe, e ficou 12 anos sem sorrir como antes, e doze anos depois seu moleque nasce:


“Não deixo a barba pinicar, quando te ninar Acho que é isso quando a gente nasce E no balanço eu te guio e te faço flutuar Pois meu colo é uma nave, de nuvens E até montanhas movo, amor louco É obvio, é outro nível e cai feito um dilúvio E se eu troco a minha vida pra poder te proteger? A resposta é previsível: I love you!”


A terceira track é “Redenção”, é essa música é fantástica, a começar por beat fora dos padrões, com um guitarra descentralizada, que varia da esquerda pra direita no ouvido. A primeira parte Ogi fala da tecnologia, como estamos dependentes disso: “Felicidade instantânea e nada sólido / Likes valem mais do que água, e isso é mórbido”, onde ainda cita Isaac Asimov, escritor de ficção científica, é que previu muitas coisas, e nesta track é chamado de “profeta”. A segunda parte, Ogi precisa de sua redenção através de sua arte, para sobreviver a esse mundo, e nessa canção a arte citada é a de pixador, relembrando os rolês que Ogi fez rabiscando a cidade:


“Depois fui e fiz meu nome de preto Pichei o parapeito Lá da casa do cuzão do prefeito Na liga da justiça só tem superboy Morreram de overdose, antigos heróis Entre os mortos vivos, tô vivão, ouvi voz Que vem ecoando do universo em casca de noz”


Seguindo tem a faixa “Deixe-me” com introdução de voz robótica pique Google ou Siri é um beat que lembra muito um samba, flow cantado e belíssimo refrão que harmoniza as ideias:


“E somente me quer, mas jamais me quer bem Hoje nem o sol vem, muitas nuvens cobrem

Somos feito notas enroladas pra cocaine Mas já fomos feito notas de Coltrane”


Orrevua” é a canção cinco, e é a que mais se aproxima de uma storytelling, nessa canção Ogi tem que cobrar um devedor, para garantir o sustento de sua família, o beat é desconstruído mescla música eletrônica e funk Miami Base enquanto que a levada é suave mas de abordagem gangsta:


“Penso que sou Frida Kahlo, sofrido me calo e nisso me inspiro Pra desenhar sua imagem mil vezes e vender ali num estande de tiro”


A penúltima música, de número seis, é “InSomnia 2", que trouxe Chinaski, Coruja e Emicida ao lado de Ogi. Como o nome sugere a música fala de uma noite sem dormir, seja do MC ou de seus haters. Marcela Maita suaviza com sua bela voz no refrão:


“É, lâmpada pros pés na escuridão Quando eu caminhar nesse chão Sem sofrer revés, trevas queimarão Quando eu ascender Lampião”


E fechando o álbum a faixa “Passagem” onde o mestre Ogi trás mais visões pessoais da sua vida, onde o nascimento de seu filho o transformou em outra pessoa que teve suas percepções e sensibilidade alteradas:


“Mundo veloz, tempo voraz E toca o apito de sinal do app 20 caracteres e é o sinal que eu caracterizei Mais um menino nasceu Outro menino que morreu E assim como o tempo flui Um menino eu também fui


Pé No Chão” traz um Ogi mais introspectivo rimando em primeira pessoa, com assuntos bem pessoais como álcool, a perda da mãe, crescer sem pai e o nascimento do filho. Nessa trabalho Ogi não se utiliza do storytelling, não criou personagens para contar uma história, usou o próprio Ogi, e seus fantasmas, para criar as poesias que compõem o álbum.


O EP do Ogi vem em grande hora, além de ser lançado no dia 24 de outubro de 2017, data que seu filho completa um ano de idade e também comemora sua parceria com a OÜS, marca brasileira de skake wear, para lançamento de um tênis, por isso o nome do EP “Pé No Chão”, além da capa do álbum ter as mesmas cores do tênis.


Um disco rápido e bem feito, com o selo de qualidade do Nave, e todo o cuidado de OGI, um trabalho diferente dos anteriores, mas que mostra uma nova percepção sobre o OGI, seu flow segue inabalável e suas sacadas mais geniais que nunca para construir as rimas. Esse trampo curto, mas extremamente sagaz traz um pouquinho do gênio para 2017, o ano lírico, e nos faz criar storytelling na imaginação de como será o próximo trabalho de OGI em 2018.

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