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As Duas Cidades do Baiana System


A música brasileira sempre traz a mescla de sonoridade, e disco “Duas Cidades” do grupo de Salvador, vem para comprovar e trazer uma experiência única para o ouvinte.


Dessa mistura nordestina e jamaicana vem o Baiana System, que do Caribe trás as influências dos Sound System, Dub, Raggamurphin e Reggae, e da Bahia vem os Blocos Afro, o Afoxé, o Samba Reggae, Ijexá, Pagode e a guitarra baiana, inventada na Bahia em 1940 por Dodô e Osmar.


Russo Passapusso vem no vocal, Roberto Barreto, fundador da banda, vem na guitarra e Sekobass no baixo, sample e programações. O disco tem produção musical do mestre Daniel Ganjaman e as participações de Siba, Márcio Victor, “Duas Cidades” reforça o engajamento social e a identidade cultural do Baiana System.


A faixa de que abre o disco é “Jah Jah Revolta, pt II”, e vem como um cartão de visita para a pegada do álbum, graves, sample’s, guitarra baiana, e letra de forte cunho social:


“Quem com ferro fere, com ferro será ferido Tire toda pedra do caminho do indivíduo Nada vai passar por cima de quem corre atrás Nada vai passar por cima Deus sabe o que faz”


Em seguida a música “Bala na Agulha”, que vem mais agitada e pulsante, também com conteúdo lírico e político, e também dançante ao mesmo tempo que é um grito de desabafo:


“Dignidade em primeiro lugar Dignidade é poder trabalhar Digno de dignidade Dignidade é poder trabalhar”

A terceira faixa é “Lucro: Descomprimido", música dançante ao estilo cúmbia, parceria de Russo Passapusso com o compositor e multiinstrumentista argentino Mintcho Garrammone, com letra que fala sobre a devastação em nome do lucro:


“Tire as construções da minha praia Não consigo respirar As meninas de mini saia Não conseguem respirar Especulação imobiliária

E o petróleo em alto mar Subiu o prédio eu ouço vaia”


O disco segue com a música instrumental “Mercado”, que exaltam a guitarra baiana. A faixa cinco é “Duas Cidades”, que dá nome ao álbum, em alusão a Salvador, os extremos da cidade, pobre e rico, trabalhador e festivo, cidade alta e cidade baixa e etc:


“Já na descida e não sabe descer dançando Sabe subir na vida e não sabe subir sambando Chega saudade, saudade sai bagunçando E quando sai da cidade xô falar pra você”


A música seis é “Playsson”, que compôs a trilha sonora do FIFA 2016, da EA Sports, única música brasileira no game. A mistura de ritmos traz uma energia singular para a faixa que tem participação de Márcio Victor:


“Playsom, playback Já ouviu aperta o REC

A.ma.ssa é o pagodão Que gruda mais que chi(clete) Que corta mais que gi(lete) Então escute pi(vete) Hoje não tem cani(vete) É serpentina e con(fete)”

Dia de Caça” traz uma referência ao carimbó com um instrumental que finaliza a faixa, com letra sobre os dias de lutas e dias de glória:


“Sem grana há uma semana, mas não vou atolar Pedir permissão pra chamã Aiatolah Deixa pra lá, deixa a queixa pra lá Seleção é natural Peneirou, peneirar”


A música oito é o instrumental “Cigano”, com a participação de Siba, e é daquelas que tiram o pessoal do cômodo e faz dançar. “Panela”, é a música seguinte que traz "As Ganhadeiras de Itapuã" num manifesto sobre as comunidades baianas mais humildes, que tem a comida e a música como principais patrimônios para preservar:


“Meio dia Panela no fogo

Barriga vazia

Macaco torrado

Passinha Maria

Vai subindo a ladeira

Segurando a panela

A panela é pesada

Põe a mão na cadeira”


A track seguinte é “Calamatraca” que mistura a Bahia com a Jamaica num ragga com speed flow, e refrão puxado para o forró:


“O batuque toca A pipoca é pouco É pipoco, é soco na cara

Sinuca de bico Nego paga o mico Que solta a macaca Que calamatraca”

Barra Avenida, parte 2", que traz influências de música africana que mescla com os ritmos do processo de experimentação nos shows do BaianaSystem com elementos eletrônicos, dub, sambareggae e sound system jamaicano, numa letra que fala sobre essa experiência:


“Em Kalakuta, Fela Kuti encantava Efeito catapulta Minha memória não trava

A gente sem dinheiro Mas a gente juntava A gente sem dinheiro Mas a gente junta”


Encerrando o disco o instrumental “Azul”, um hino que diminui os BPM de forma bem harmônica.


O Baiana System vem como uma sequência da alquimia de Chico Science, num pós-manguebeat, a mistura da música regional do norte e nordeste como o carimbó, cocô, o canto das lavadeiras, como trio elétrico e o axé e ritmos de fora como o Hip Hop, Reggae e Dancehall, somados a guitarra baiana fazem que o som experimental, que foi provado e aprovado nos shows do grupo, um belíssimo trabalho que resultou no álbum Duas Cidades, e nos traz ansiedade sobre o mais os maluco vão nos apresentar?

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