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Galenga Livre do Manicongo Rincon Sapiência


O versátil Rincon Sapiência, também conhecido como Manicongo, como gosta de lembrar, em carreira desde os anos 2000, organizando sarau e paradas poéticas, lançando clássicos como “Linhas de Soco” e “Rep And Roll”, em 2017 chegou pesado com o que é de fato seu primeiro disco: Galanga Livre. Título inspirado na lenda do escravo Galanga que lutou e matou pela sua liberdade.


O DJ A.S.M.A. chega junto nos scratches, o álbum tem participações especiais de Lia de Itamaracá e Willian Guimarães, que também dirigiu e co-produziu o disco.

O disco abre com a faixa “Intro”, com um baixo ao fundo, enquanto Rincon discursa rapidamente:

“Salve, salve Vamos seguindo aqui nas nossas transmissões Aqui no novembro manicongo Com a música de Rincon Sapiência Música que foi inspirada no conto fictício Do escritor Danilo Albert Ambrósio Que conta a história do escravo Galanga Que gerou uma grande reviravolta no engenho A partir do momento em que cometeu um crime bárbaro”


A faixa seguinte é "Crime Bárbaro" , que possui base envolvente e tensa, com incríveis riffs de uma guitarra e uma batida que lembra o berimbau, contando a história de Galenga, o preto fujão , que rebelou-se contra o Senhor de Engenho chegando a assassina-lo e assim fugir:

“Capangas armados estão à procura Escravos apoiam meu ato de loucura Fugido eu tô correndo pela mata Na pele eu levo a marca da tortura O crime deixa doido o bagulho Carrego um pouco de medo e orgulho Atrás da orelha deles eu sou a pulga Se eles chegar tô pronto pra dar fuga”


Em seguida "Vida Longa", um som que lembra de Jimmy Hendrix e Janis Joplin não só nas letras, mas na sonoridade com uma guitarra clássica casada no boombap, com influências do Blues do Mississipi, em que o artistas fala dos contextos atuais do Brasil como “Infelizmente Bolsonaros não é tipo raro", entre outras punchlines do cenário político brasileiro:


“Nóis aprecia vida longa, a democracia Pra muitos vida dura, ditaduras torturaram Palavras que liberta o limite da fronteira Não é a Bíblia narrada por Cid Moreira Rap é vida, a rua e as narrativa Desejo vida longa à nossa voz ativa”


A música quatro "A Volta pra Casa", possui linda melodia e belíssima letra, como o próprio Sapiência cita, é uma homenagem a classe trabalhadora, principalmente para as mulheres que se encontram sozinhas nas ruas escuras durante a noite voltando do trabalho:


“ Trabalhadora voltando pra casa Perguntando pra Deus “por que não tenho asas”? Pra voar pelos ares e voltar para o lar A real, ônibus cheio dói só de pensar Na bolsa um livro novo, não tem condição Leitura na multidão, frustração Nove horas no trabalho é bem mais suave Que as duas horas balançando na condução”

O disco tem espaço para homenagear o samba, na faixa "Meu Bloco" que mistura o gênero com rap e o trap: “A pampa nessa rampa, guardei, fechei na tampa / O trap, o rap, o samba, deu isso aqui, olá!” Rincon constrói a conversa dos estilos com ótimas rimas que falam sobre carnaval e alegoria mesclando com a cultura de rua do hip hop. A faixa virou clipe, no seu lançamento, gravado no barracão da escola de samba Pérola Negra, sendo filmado em plano-sequência e realizado pela Boia Fria Produções e com direção do Jorge Dayeh:


“Nóis vem pesado como Rei Momo (Rei Momo) Os pé-de-breque vive dando pala (dando pala) Na comissão de frente, fico como? (fico como?) Sambo na cara tipo Mestre-Sala (Mestre-Sala) Ponta de Lança é meu bloco Só entra nele quem tem aval Não devo nada, dá meu copo Pra nós o ano todo tem carnaval”


A faixa 6 discorre sobre uma "Moça Namoradeira" que deseja o seu príncipe mas recebe apenas os sapos em sua vida, destaque para o flow envolvente do Rincon e a voz de Lia de Itamaracá, que chega junto:


“Encontrar um príncipe É um dos seus planos principais Diria: Ei, dama, pense mais Uma das mentiras mais reais Ele corre atrás, faz um elogio Se te vê passar, já faz um psiu Ele quer manter o coração vazio É o plano de um macho que tá no cio Ela sonha com o casamento Antes de dormir ela sempre ora Podia orar por coisa melhor Tipo viajar pelo mundo afora Ela namora, namora Quer filhos, netos e noras Mas ela tomou um fora Que marcou Que nem mancha de amora”


Rincon Sapiência também mostra seu.lado romântico em “A Noite É Nossa" rimando sobre um romance quente e envolvente, porém inesperado mas muito apreciado.


“Uma certa vez eu não aguentei Te liguei pra matar toda essa tensão Cê não atendeu, eu logo pirei Fudeu, reagi como um tolo Já te imaginei com outro criolo O consolo veio, você retornou Sem transtorno, nosso mundo já ornou Eu amoleci, senti a queda Vai vendo, logo eu, coração de pedra”


A próxima faixa é quentíssima “A Coisa Tá Preta", expressão usada para dizer que algo tá ruim, o MC transformar o pejorativo em algo bom, “se eu te falar que a coisa tá preta a coisa tá boa?”


“Abre alas, tamo passando Polícia no pé, tão embaçando Orgulho preto, manas e manos Garfo no crespo, tamo se armando De turbante ou bombeta Vamo jogar, ganhar de lambreta Problema deles, não se intrometa Óia a coisa tá ficando preta”

O disco também tem espaço para falar de fé, oração, liberdade, a faixa “Benção" relata as bençãos nas coisas simples da vida. Com participação de Willian Magalhães a canção discorre:


“Benção, a chuva no sertão É a rosa no cinza do concreto É o rango no fim de um jejum Benção é a goma para o sem-teto É o punho fechado pronto pro soco Que se abre pronto pro afeto Nas leis que impera o silêncio A benção é grito de quem tá quieto”


Rumando para o final do álbum, a faixa 12 é “Galanga Livre”, que traz no espirito de liberdade do escravo Galanga a sensibilidade para a luta cotidiana e o senso de justiça e de liberdade:


“Nossa coragem levantar Pro nosso medo encolher Fui convidado pro jantar Migalhas não vou recolher Vida me chama pra cantar Sem fuga, livre pra correr Um bom terreno pra plantar E a casa preta se ergue Lerê, lerê”

"Ostentação À Pobreza", é a próxima faixa,e já havia saído na rua antes do lançamento do disco, Ricon explode nesse rap de protesto e denuncia, com rimas rápidas e batida tensa, relatando a desigualdade social:


“Pobreza, pobreza Um certo dia vi ela Quando passei na viela Cruzando pela favela Pobreza, pobreza É conviver com a nojeira Morar em área de risco e dormir ao som da goteira Um carro louco é um abalo, o som batendo no talo Lugares que têm miséria, luxo é andar de cavalo”


"Ponta De Lança", fecha o álbum, outra faixa que já estava na rua, aqui Rincon Sapiência tem o objetivo de valorizar o MC (Mestre de Cerimônias) voltando as origens do rap. Vários elementos da periferia são observados em em punchlines que como o própico rapper cita no final, soa como uma continuação de “Linhas de Soco”. A batida lembra um funk carioca, com uma pegada africa, num beat dançante e envolvente a faixa diz:


“Raiz africana, fiz aliança, ponta de lança, Umbabarauma De um jeito ofensivo, falando que isso é tipo macumba Espero que suma Música preta a gente assina, funk é filho do gueto assuma Faço a trilha de quem vai dar dois E também faço a trilha de quem vai dar uma Eu não faço o tipo de herói, nem uso máscara estilo Zorro Música é dádiva, não quero dívida, eu não nego que quero o torro Eu não nego que gosto de ouro , eu não curto levar desaforo Nesse filme eu sou o vilão, 300, Rodrigo Santoro Eu enfrento, coragem eu tomo, me alimento nas ruas e somo Restaurante, bares e motéis, é por esses lugares que como Anjos e demônios me falaram: “vamo!” e no giro do louco nós fomos”


A direção do disco ficou pelo William Magalhães, da Banda Black Rio, o álbum passeia pelo rock, R&B, afrobeat, soul e funk, com rimas e batidas que confirmam o orgulho negro e reafirma as raízes africanas.

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