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Eu Tiro é Onda, Marcelo D2


O disco abre como a maioria dos discos de rap nacional do final dos anos 90 e inicio dos anos 2000, com uma “Intro”, que é uma especie de abertura para um espetáculo, onde cita o Circo Voador, grande palco e de extrema importância para o Planet Hemp, e fala que dos artistas da noite, como Tim Maia, Tom Jobim e Elis Regina, alusão aos sample's utilizados no disco, D2 também explica que o mesmo trará sua experiência de mescla do rap com o samba.


“Alô Alô testando Boa noite, Senhoras e Senhores!!! Direto da Lapa Circo Voador Lotado!!! 8 mil pessoas para uma noite muito especial com os melhores da música brasileira Vocês terão no palco Tim Maia, Tom Jobim, Elis Regina E a mistura de Hip Hop com samba Ele o que todos estão esperando Marcelo D2.”


E da influência do samba vem a música “1967”, ano de nascimento de Marcelo Peixoto, a faixa foi inspirada na música “Espelho” de João Nogueira. A canção relembra a infância de D2, passando pela sua juventude até as primeiras rimas e consequências, com muito scratch e sample de chorinho a letra segue:


“Vender Camisa na 13 de Maio Na situação show no Garage Skunk, diversão de irmão Grandmaster Flash, Afrika Bambaata, Planet Rock Rap, break, graffiti Chegou o hip hop Cantando a vida mas vista de um outro lado Não é apologia, cumpadi, não adianta ficar bolado

Entenda se a minha rima não te faz rir Não é apologia parceiro, da licença, sai daqui Eu vim pra zoar, fazer barulho Falar um pouco de mulher Skate, som, bagulho Sempre ligado, sempre sabendo o que quer Sempre bom da cabeça, nunca doente do pé”


A terceira faixa é “Sessão”, que segue numa linha mais pesada, com batidas fortes, “91 são as batidas por minuto”, e a letra, relata um rolê de D2 e seu direito de dar um dois: “Tenho direito ao relax, trabalhei o dia inteiro…”. A letra tras a bandeira levantada pelo Planet, Marcelo mostra que em carreira solo vai seguir com os temas da banda:


“Pronto, tá apertado! já ascendi, a coisa é boa então passo pro lado. seguro na pressão.. isso aqui é papo de sangue-bom.. viro fumaça, já era, só fico a ponta do dedo amarela! Brincando com as palavras no meio de uma sessão, queimando um pouco de neurônios, tem nada não!”


Próxima faixa é uma que tocou muito na rádio paulista 105,1 FM, no programa Espaço Rap, com participação do rapper Shabazz, que tiro dos EUA fez uma ponta na faixa “Eu Tiro é Onda”, rap pesado, com sample de Barry Miles, com “Hijack” (1970) e The Meters com “Handclapping Song” (1970) que buscou a harmonia entre letra em inglês e português (outro tabu da época, principalmente para o rap gangstar, pois pegava mau colar com gringo estadunidense, cheirava como “pagar pau”, mas D2 se saiu bem nessa, mostrando a evolução do hip hop nacional):


“ his be that shit for the ghetto. Shibazz the Disciple, Marcelo

Rio de Janeiro, Nova york, Andaraí, Brooklin. É como uma selva de pedras Shabazz.

The Concrete Jungle, some niggas is poor, some niggas stackin’ bundles

Yo son, where I’m from is off the hinges Even niggas is smokin, sniffin, shooting that shit up with syringes Hustlers profiting off amphetamines

Eu vim do Rio de Janeiro à Nova York levado pelo som No Andaraí, no Brooklin, só tem sangue-bom Vou te explicar como é que eu faço pra sair dessa merda Eu tô sempre ligado, e mantenho minha mente aberta”


A Faixa 5 se chama “Mantenha o Respeito II”, apesar de soar uma continuação do som apresentado no disco Usuário (1995) do Planet Hemp, a track tras a mesma letra da banda, porém com uma nova roupagem, um arranjo rap com batidas boom bap e muito scratch, gravadas em vários take e com vários samplers, o principal é do trompetista Freddie Hubbard em “Yesterday’s dreams”, se liga:


“D2, e preste atenção Portas se abrem e aumentam o poder da visão Isso é o meu compromisso E se eu fumo ninguém tem nada com isso Não, não preciso da sua postura A minha segurança eu faço na cintura Um hipócrita vai e os valores não caem É tanto preconceito que eu não aguento mais Se você tem amor pelo que tem no peito D2, mas mantenha o respeito”


A próxima faixa é “Samba de Primeira”, onde D2 usa a batida da MPC e com sampler de samba, o estilo é rap, mas o samba tá presente no instrumental e na letra também:


“Eu entro no samba e não deixo cair Sem vacilar sem me exibir só vim mostrar o que aprendi Não toco como antigamente com um banda de samba Hoje a coisa é diferente é o DJ e o sample No pit-don-don na minha MPC é só vinil cumpadi pra confundir você Nã nã nã nã nã não Acho que já deu pra entender né , já deu É Hip Hop com Samba”


Na próxima música, a de número 07, “Fazendo Efeito”, não é bem um música, tá mais pra uma introdução, talvez anunciando que vamos entrar no Labo B do disco, com músicas menos trabalhadas comercialmente e fortes criticas, nessa track D2 anuncia que está fazendo efeito em seu disco:

“Ei crianças nao tentem isso em casa, MPCSP é sinal de fumaça, eu e meus camaradas levando um som, soltando o verbo e só queimando um do bom… Black Alien, está em casa Andrehinha, está em casa Zé gonzales, está em casa Bertrame está em casa Beed e Solsi estão em casa Davi o marroquino está em casa Tomy e o seu baixo estão em casa Marioci está em casa Eu misturei hip-hop com samba, diz o dito popular, morre o homem fica a fama, essa é daqui é pros que estão sempre do meu lado, é isso aí, muito obrigado.”


Faixa 08 vem pesada trazendo a banca do Planet Hemp para cantar “O Imprério Contra Ataca”, assim Black Alien, Speed, BNegão e Jacksom somar no rap, um dos primeiros cyphers nacional:

“[Marcelo D2] Atenção terráqueos leve-me ao seu líder Aquele que toma tua casa, teu salário e você fica parado otário…

…[Black Alien] Pensamentos mortais por detrás das grades,da cela Detritos federais tentam me botar na sequela Mas comigo tá tudo certo tá tudo tranquilo Como se eu tivesse dando um rolé descendo o Rio Nilo…

…[Speed] Eu sou Speed na maior sempre sagaz, qual o problema? Sem crise, se para no ar alguma dúvida pense duas vezes Com atenção redobrada, pra começa a me esculacha Eu já mandei mais de 15, parado vira alvo, então passe Correndo pa não leva tiro, mas ve se passa em zig zag…

…[Jacksom] Eu entro no seu sonho como estrela da morte Exploro os limites, destruo o indivíduo, o pesadelo continua Me torno um homem mais forte, com destreza coragem…

…[B. Negão] Por isso não se espante quando eu der meu sangue por Alguma coisa que eu leve fé Foram muitas tempestades, mas eu ainda tô de pé, como Água mole em pedra dura, minha verbe te perfura, e sua Barreira se dissolve vira poeira, diluída no ar…”


Espancando Macaco” é a faixa seguinte , é um instrumental com piano de João Donato e scratchs e samples que imitam o som do macaco. A gíria espancando macaco tem o mesmo significado da gíria mais popular “5 contra 1”.


A música de número 10 é “Eu Tive um Sonho”, letra é do Thaíde, um dos pilares da cultural Hip Hop no Brasil, enquanto o rapper paulista escreveu música para homenagear o seu amigo Claudio que se foi para um bom lugar, D2 lembra do parceiro de Planet, o Skunk:


“Essa noite eu tive um sonho. Um sonho diferente, sonhei com um camarada que não vive mais com a gente. No sonho ele me disse que

o céu é muito quieto, lá não tem Break, não tem som, nem cara esperto. Eu fico pensando aqui na terra eu era forte. Todos me conheciam da Zona Sul a Zona Norte. Eu até pensava em gravar um disco. Mas chegou uns camaradas pondo um fim em tudo isso […]

Eu acordei. Depois de tudo isso e do meu parceiro muita saudades eu sinto. Eu dise: Adeus Skunk nunca mais vou te esquecer, Deus que te ponha no lugar que merecer!”


A faixa 11 é “Encontro com Nogueira”, onde segue a mistura de hip hop com samba, sampleando a música brasileira D2 fala de suas inspirações: “É hip-hop com samba junto na mesma batida, igual aquilo no mundo não tem coisa parecida. Mistura de Racionais com Orquesta Tabajara…”


“Fui a uma festa na lapa Que há muito tempo não via O coro comia , era mc e partideiro Tudo o que eu queria Lá da cinelândia já se ouvia o som Era o dj na vitrola Meu deus que grave bom Tava calor pra caralho E eu com a camisa do mengão Fazia estilo com um puma, bermuda e um batidão Passei pela portaria Tocava um Wu Tang Clan e junto a isso Pandeiro, cuíca, surdo e tan-tan”


A Batucada”, penúltima música do disco, talvez a mais ‘samba’ do disco, mas a batida do hip hop está evidente, começa com um samba na palma da mão com música incidental sampleada do Fundo de Quintal, “A Batucada dos Nossos Tantãs”, e Marcelo D2 explica como fez o som: “Do fundo do meu quintal faço esse som pra você, duas vitrolas, vinil e uma SP…”, e D2 segue improvisando igual num samba de partido:


“Com o microfone na mão abalando tudo pela frente eu entro no samba com meu hip-hop o DJsolta a base a mulata sacode não precisa presta atenção no que eu to dizendo não tenho o que rimar eu mando um remendo agora lembrei de uma boa que rima com samba eu sou da nova geração e minha ginga é de bamba mas sempre influenciado pela velha guarda veio do Fundo do Quintal essa parada”


Fechando o disco tem Black Alien novamente, que rima com D2 o som “Baseado em Fatos Reais” que conta o episódio da prisão do Planet Hemp em Brasilia, assim a dupla narra um pouco da situação num hip hop samba, com sample de “The Mohawks”, do The Champ (1968)e “Bebe” de Zimbo (1978):


“[D2] Baseado em fatos reais perto do ano 2000 liberdade de expressão aqui nunca existiu o que eles querem eu sei é me deixar de lado polícia bate no povo e o povo aguenta calado dizem que faço apologia porque canto a vida querem tampar minha boca enquanto fecham a ferida acostumado com o poder manipulando mente fica sabendo compadre comigo é diferente Rua é o lugar de onde vim e de lá vem a história de muitos igual a mim…

[Black Alien] Eu sou pago pra rimar e rimo pra ser pago e até preso e desta história ninguém saíra ileso não subestime esse é meu time toc toc polícia é uma questão pessoal me pegar no crime mas eu te trago más novas o nascer do sol se mantém sublime de um lado eu tenho Bob do outro eu tenho o jimmy na lírica bereta na lírica glock sentado no banco dos réus do lado do rei meu foco é a minha sentença eu sei hora do pesadelo bem vindo cego num asilo mar gelado caindo no “pelo” luz no fim do túnel alarme falso prazer em reve-lo decepciona-lo sangue na cena do crime vaza pelo ralo imprecionado eu dei um dois no que Deus não me deu pois e eu estou enjaulado…”

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