Entrevista com GOG
- Jeff Ferreira
- Mar 29, 2017
- 8 min read

O rolo compressor, G.O.G o gladiador, um dos pioneiros da cultura hip hop, com longa caminhada no rap, a favela batizou Genival Oliveira Gonçalves de poeta, autor de uma discografia vasta, de um senso comum, de pensamento critico e caneta feroz, e com uma longa caminhada no rap e é capaz de se reinventar a cada trampo novo se mantendo atual num cenário de constante mudança, GOG é o terror, é o crime, é o incendiário, é poesia pura, pulsante, e o mestre trocou uma ideia de rocha com o Submundo do Som pra falar de carreira, música, politica, literatura, cinema, como o próprio poeta rimou: "EU SOU MAIS UM PARCEIRO DESSE SUBMUNDO, TRAZENDO A TONA NOTÍCIAS OUÇAM POR ALGUNS SEGUNDOS":
Submundo do Som - O GOG dispensa apresentação, mas pra seguir o protocolo: Quem é o GOG? Qual que é a correria do GOG?
GOG - GOG é um amontado de gente se expressando, tendo voz, se fazendo presente.
A correria é cada vez mais, ser voz de mais gente!
Submundo do Som - O GOG tá na estrada a uma cara, já viveu bons e maus bocados, rolou uma conversa de se aposentar, o que passou na cabeça do poeta?
GOG - Quando se pensa em si, toma-se decisões individuais. Quando se pensa no coletivo as decisões são equilibradas. A real é que tenho ainda muito a contribuir.
Sem essa de aposentadoria, além do mais, o vinil nos faz eternos!
Submundo do Som - Qual a diferença do GOG que lança o CD ‘Genival Oliveira Gonçalves’ com incríveis arranjos, poesias apuradas e que transita na MPB com o GOG de 1990, no selo Kaskata’s? Como o poeta vê essa caminhada?
GOG - A diferença principal é o acúmulo de experiência, a vivência. São fatores que definem o jogo. Bases, beats, produções são estações do trem, e independente da estação o importante é o conhecimento que ela transmite. Na real, a música é só uma armadilha, um vestuário dos temas.
Submundo do Som - O último trabalho, intitulado ‘Genival Oliveira Gonçalves’, é um disco mais refinado, musicalmente falando, dá pra ver que foi posto o coração em cada letra, cada verso, cada instrumental. A tendência é evoluir, essa foi a evolução musical do GOG, mais harmônica, mais música orgânica em cima das batidas?
GOG - Não necessariamente. Gosto muito de boom bap, “É o Terror” , é o um dos primeiros, e meu novo trabalho terá vários. Trabalhar com músicos, batidas harmônicas, complexas é maravilhoso, mas, sinceramente gosto mais do menos que é mais... da intimidade DJ – MC, a essência que trouxe a revolução.

Submundo do Som - Nos anos 90 era muito comum as batidas do rap serem samples de músicas, como por exemplo foi o trampo dos Racionais, Sobrevivendo no Inferno, que trás muitas referências principalmente a música negra americana. Hoje é comum a cultura do beatmaker, que produz os seus bits numa MPC ou num computador. Como o GOG vê essa mudança?
GOG - Eu sou um caminhão de mudanças, carrego tudo, sabendo que outra vida vai se iniciar em outro espaço. Os avanços tecnológicos são sempre bem-vindos e eu me relaciono muito bem com isso.
Submundo do Som - Como o poeta vê a atual cena do rap hoje?
GOG - Muitos talentos!
Na real são várias cenas. As batalhas que se multiplicam, as novas formas de relacão com o ciclo da música, tudo isso me encanta!
Gosto muito dos trabalhos do Diomedes Chinaski, Baco Exu do Blues, Drika Barbosa e do Djonga.
Submundo do Som - O DVD “Cartão Postal Bomba” foi um dos primeiros do rap nacional, com a devida estrutura e nomes de peso, como foi aquele momento pro GOG?
GOG - Foi gravado em 2007 e lançado em 2009.
Totalmente autogestivo, sem dinheiro público e com grandes parcerias da cultura da cidade. A Jenny montou um time de peso!
A “célula mãe” do CPB foi minha participação no Acústico MTV – Lenine. Aprendi muito, conheci na gravação artistas como Chico César, Igor Cavalera e Vanessa da Mata que foram até meu camarim, simplesmente para dar um forte abraço e desejar boa sorte na gravação. Isso mudou meu modo de relacionar com outros territórios musicais, o que culminou com o DVD.

Submundo do Som - Como que você vê o fato de ter “apadrinhado” nomes que estão fazendo eco no rap e na música de modo geral, como A Família, Rapadura, Lindomar 3L e Ellen Oléria?
GOG - Com naturalidade. Sempre pensei que talento se apresenta, não se aprisiona.

Submundo do Som - Quem que o GOG pode citar, de artistas, pra galera que tá procurando um som novo pra ouvir?
GOG - MOVNI e Thabata Lorena são dois trabalhos do DF que gosto muito, mas tem muito gente. Conheci alguns coletivos, com estúdios, vários beat makers, excelentes letristas. O DF e a Grande Brasília estão com uma geração ouro!
Submundo do Som - Vi uma entrevista do poeta para o mano Fila Benário, do blog fbenariomusic.wordpress.com, e lá o maluco perguntou da relação do GOG com o Chorão, Charlie Brown Jr, essa pergunta é importante porque o Submundo do Som é voltado pra músicas irmãs como o reggae, o rap e o rock. Fala um pouquinho dessa relação com o Chorão.
GOG - O Chorão foi um parceiro leal, tinha uma grande admiração pelo meu trabalho e vice versa. Creio eu que com a sua presença aqui, entre nós, a música underground estaria ainda mais fortalecida. Mas a vida nos traz gratas e ingratas surpresas, que descanse em paz, ele contribuiu muito!
Submundo do Som - Mestre, falar de rap é como falar de politica, ainda mais falando das suas letras. O que o GOG vê nesse atual momento politico do Brasil pós golpe?
GOG - Vejo uma grande oportunidade de reestruturação para além da esquerda partidária. Vejo uma oportunidade dos movimentos sociais se unirem em rede, se fortalecerem na base e escrevermos a nossa Diss! Nossa canção coletiva de descontentamento.
Submundo do Som - Li numa entrevista sua que seu nome tava cotado para ser Ministro do Governo Dilma, que ministério que era? Você seria ministro GOG?
GOG - Sim. Ocorreu, fui cotado para comandar a SEPPIR* e recebi também o convite do Secretário Nacional de Juventude para Coordenar o Plano Juventude Viva. Eu não aceitaria, mas conversei com minhas bases, ouvi todos e todas. Ao final reforcei minha decisão e agradeci o convite.
Eu sempre pensei em ser “o fogo que aquece a água da chaleira”, estar na base, sei que o que vai definir o jogo, no “pais da bola”, é a “bolinha duzoi!”
*Secretária de Politicas de Promoção da Igualdade Racial (Criada no governo Lula em 21 de março de 2003 e extinta pelo "governo Temer em outubro de 2015) - Jeff Ferreira
Submundo do Som - Você acha que existe uma divisão ideológica hoje no Brasil, que estamos rachados como pais?
GOG - Sempre estivemos rachados ideologicamente, mesmo aqueles que não conhecem o conceito de ideologia, pois sofrem a ação direta delas. O momento é de ânimos exaltados, de disputa de espaços e governabilidade, baseados na ideologia dos grupos. Isso não resolve, só agrava a situação.
A saída é pra dentro!
Submundo do Som - E a indignação seletiva? Há que fato se dá isso na opinião do poeta?
GOG - O sistema não poupa ninguém. Não vejo os excluídos do sistema e sim os mau incluídos, que são peças essenciais para que engrenagem funcione.
A indignação seletiva dá-se por falta de conhecimento do todo, por não se perceber também utilizado como peça da engrenagem, e ter impressão de que só os “cidadãos de bem e de bens” são dignos das “benesses do sistema.”
O avião é um meio de transporte maravilhoso, o problema não está no avião, mas no fato de nem todos poderem viajar de avião.
Submundo do Som - O que o rap, o movimento hip hop deve fazer nesses tempos difíceis?
GOG - Construir, desconstruindo...
Construir estruturas físicas e mentais e desconstruir conceitos seletivos e outras armadilhas. Enfim, trabalhar...
Submundo do Som - O GOG já cantou Che, um deu um salve pra toda América Latina, já narrou o MST, fez a Guerrilha G.O.G, biografou Malcolm X, deu a letra pro FHC, que só parecia um defensor da foice e do martelo, além, é claro de sempre denunciar esse sistema nojento capitalista, o rap do GOG é revolucionário, qual é a escola de pensamento politico, a linha de raciocínio ideológico que o poeta segue? Quais os nomes que inspiram?
GOG - Hoje continuo a ler bastante, pesquisar, ter acesso ao conhecimento. Mas o que define o jogo é a “bolinha duzoi” a necessidade que vejo em cada pessoa que encontro de melhorar, de viver. Isso vale mais que qualquer coisa.

Submundo do Som - E musicalmente falando? Quais artistas inspiram o mestre GOG?
GOG - A música é sempre inspiradora, mesmo aquelas com as as quais não me identifico, por me mostrar que caminho não tomar. Música é universal, ser seletivo é reproduzir a clausura sistêmica. Há acerto no erro e vice versa.
Submundo do Som - A televisão, ou melhor, a grande mídia opressora, qual o recado para ela, ou para o público que espera o GOG um dia lá?
GOG - Pra ela não tenho o que dizer, porque ela não vai mudar, nasceu pra cumprir um papel que desempenha muito bem. Meu recado é para as pessoas: procure meios que sejam realmente de comunicação, com os quais você possa interagir, divergir. A Tv só fala, só transmite, não acredito nela, nem em gente que age assim.
Submundo do Som - A Rima Denúncia, um dia não me contive de alegria de receber esse livro pelo correio, veio autografado, li em dois dias. Quando veremos o GOG escritor de novo na cena?
GOG - Temos projetos. O professor Nelson Maca me propôs uma biografia. Falei: vamos sim professor, você terá a missão de ouvir afetos e desafetos. Creio que vá demorar um pouco, pois tem muita história ainda.

Submundo do Som - E o GOG ator? Muitos manos não tão ligado, mas o Genival já foi Genésio, como foi trabalhar no curta Procura-se? Tem desejo de fazer outros trampos no cinema?
GOG - Um Filme para o público infantil. Interpretei um carroceiro, que tinha o nome do meu pai, Genésio. Foi muito boa a experiência, mas eu fui praticamente eu mesmo nas cenas. Quero futuramente interpretar gente que não tenha nada a ver comigo.
O curta ganhou prêmios e o Diretor, Iberê Carvalho viajou o mundo. Muito gratificante.
Submundo do Som - Na música Vaidade, do último álbum, o poeta vai buscar inspiração no Pernambuco, com Zé Brown e Kalyne Lima, e cita Chico e Nação Zumbi, Mundo Livre e Bolla 8, que inclusive soube que o G.O.G vai fazer uma participação no próximo disco do Combo X, como é essa relação com os músicos citados?
GOG - Nossa, queria muito fazer um som com Kalyne Lima e Zé Brown e “Vaidade uma produção do DJ Guirraiz trouxe essa oportunidade, eles tem vocais e letras muito fortes, contundentes e que emocionam. Sou nordeste de corpo e alma!
Já participar do Combo X, tem um sabor muito especial, sinto-me pertinho de Chico Science. Gilmar Bolla 8 é um parceiro de primeira chamada e Miza foi a amiga que possibilitou esse encontro musical, adorei os arranjos o vocal de Gilmar, um som que promete!
Submundo do Som - Ainda falando sobre nordeste, o GOG ouviu a polêmica “Sulicidio” do Baco Exu do Blues e do Diomedes Chinaski? O que achou da música?
GOG - Menos Diss, mais debate.
Porém vejo um grito que estava entalado na garganta os nordestinos nessa letra.
Agora, o respeito deve prevalecer, mesmo nos momentos exaltados.

Submundo do Som - Falando em Nordeste, o GOG é piauiense mas nasceu em Sobradinho? Como é essa história?
GOG - Nasci na cidade de Sobradinho, 15 dias que mamãe chegou, vinda do Piauí, onde vivia.
Reivindico a dupla naturalidade!
Submundo do Som - Fala um pouquinho da música “Desconstrução”, que além de uma releitura de Chico Buarque é uma pedrada. Como foi o processo pra compor essa música?
GOG - Queria fazer algo com a obra de Chico Buarque.
Achei no clássico “Construção” essa oportunidade.
Transportei para outra dimensão, o que Chico escreveu.
A interpretação de Victor Vitrola completou a transição.
Chico Buarque, ouviu, gostou e teceu elogios.
A sensação é de dever cumprido.
Submundo do Som - O que o GOG ainda pretende viver como rapper?
GOG - Sou um moleque com alguns cabelos brancos...
Pergunte pra molecada, quero viver o mesmo.
Submundo do Som - O que podemos esperar de novo do poeta?
GOG - Velhos temas e novas embalagens.
Submundo do Som - Pra quem curte tua carreira que mensagem você deixa pra rapaziada?
GOG - A nossa parceria vai para além da música. A nossa identidade acontece pelo respeito e carinho mútuos. Estaremos sempre juntos!
Submundo do Som - E pra quem quiser falar com o GOG? Saber mais do poeta? Quais os canais? Como te achar?
GOG - Email: familiagog@yahoo.com.br
Insta, face e twitter: gogpoeta
Youtube: GOG – Inscreva-se no nosso canal.

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