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20 Anos de Lapadas do Povo dos Raimundos


Em 1997 foi lançado o quarto álbum dos Raimundos o Lapadas do Povo. 20 anos depois é punk rock come solto quando esse disco toca. Esse trampo, feito nos EUA trás uma diferença para os trampos anteriores, o que ficou conhecido como o fim do forró core, pois já não há tanto as influências nordestinas presentes na musicalidade da banda.


Produzido por Mark Dearnley, que já produziu e mixou nomes como Paul McCartney, Black Sabbath, Motorhead e AC/DC, o disco dessa vez veio mais hardcore e com muita tendência do heavy metal.


O albúm dá seu cartão de visita com a paulada "Andar na Pedra", com riffs de guita que flertam com o thrash pessadíssmo, já no vocal de Rodolfo vem mais agressivo, já sem tanta influência nordestina no sotaque e dicção. A letra é reflexiva e leva o ouvinte para o meio do mato:


“Caminha pela trilha que leva por outra trilha E lá você vai ver a queda d’água e que senhora queda Lhe peça pra limpar do mal que a tanto tempo assola a Terra. Pra saber só quem erra que sangra o pé na subida da serra.”


A faixa seguinte é a acelerada "Velho, manco e gordo", Rodolfo em velocidade incrível em sua levada deixa a cação quase incompreensível num hardcore alucinado:


“Tome cuidado irmão com a bicicleta Você pode tombar, cair no chão e rasgar a venta Se te leva pra correr com o Manel você não aguenta Se te leva pra dropar nas merreca você nem tenta”


Faixa 3, "O Toco" é um pouco menos acelerada, mas não deixa de ser pesada, marcada pela estrutura musical e a ótima colocação dos riffs nos momentos certos, além do refrão melódico que mostra a evolução da banda:


“Levanta véio a idéia fede mas essa suja as bordas Culpa do Fred não lembrar quando acorda Tava num show maneiro tocando num som fuleiro Parece Tora Tora só que uma versão só com viola

Bem na metade do show tinha uma explosão Queimou a cidade no pipoco do trovão”


Na canção "Poquito Más", fica em evidência a musicalidade do Digão e os solos de metais no fim dessa que é uma das canções mais conhecidas do disco e trás uma proposta totalmente diferente de tudo que os Raimundos já mostraram:


“Quem foi que viu o cabra da cabeça grande Dando um gole na porção que a dona Lídia preparou Disse que o bicho deu um pulo e num instante Se ouviu um assovio e o cocão desinchou”


A próxima é a "Wipe Out" que faz o ouvinte voltar ao primeiro disco dos Raimundos e trás toda a criatividade musical do guitarrista Digão, nesse que é um hardcore bem acelerado e com boa estrutura musical:


“Corte na vala moleque doido rasgando feito uma bala O toco podre roda o leque e se dormir lá dentro o sono some É no barril que a gente esquece do nome Que o couro come e o pau rela no chão que rala Pra entrar você não é tão forte quanto pensa A reza é braba Iemanjá foi quem mandou a bença Para te lavar chegou a sua vez de ir pro fundo Pegue ar e se prepare pra acordar em outro mundo”


"CC de com força" é a faixa de número 6, e trás o hardcore direto, sem rodeios e alucinantes, como na segunda faixa do disco, destaque para a levada de Rodolfo:

“Não sei porque toda a vez

"Que ele vem vindo vem quebrando tudo, Entortando poste, batendo em véi barrigudo E só toma um banho por mês Que é pra ficar natural Fedendo a onça espanta as moça é perfume de alho é sal Vem pondo fogo no couro queimando as planta Derrubando o toco seco onde o sabiá canta Quem tá perto segura o tranco E a tosse que chega fecha a garganta e seca a venta Nem quem for corno não agüenta”


"Crumis ódamis" da continuidade no disco e continua acelerando e elevando o nível do hardcore. Destaque para a bateria de Fred:


“A diferença entre um trator e uma beringela É a proporção equivalente ao bem que eu sinto por ela Isso é verdade Na minha casa eu pego a faca e faço um furo Pra olhar do outro lado o sol que tá ficando escuro”


A faixa 8 é "Bonita" e dá um tempinho na pancadaria sonora, mas continua no hardcore, dessa vez um HC melódico, que não deve nada para as bandas americanas:


“Pra que deixar de fora Se lá dentro é que tá quente

Quando encontrar com ela Vou deixar a marca dos dente

Vou voltar pra ver o filme da metade Isso passa todo dia bem em frente

Pode sentar no colo Que aqui ninguém vê a gente”


A pancadaria retorna na faixa "Ui, ui, ui" que vem a todo vapor numa letra escrachada e um instrumental bate cabeça:


“Quem botou Bob no rabo do porco Quem fez maldade com meu bem Tiraram o acento o cocô virou coco Puseram mais dois zeros, 1 agora é 100”


Seguindo, os Raimundos gravamo faixa do britanico Elvios Costello, com a versão de "Oliver's Army", mostrando a versatilidade e mesclando faixas de muito pancada com outras mais baladas, a exemplo dos Ramones:


“Don’t start that talking I could talk all night My mind goes sleep walkin’ While I’m puttin’ the world to right Call careers information Got yourself an occupation Oliver’s army is here to stay Oliver’s army are on their way"


Canisso mostra a força do seu baixo na faixa "Nariz de doze", logo ganha a companhia do pesos da bateria de Fred e da guita do Digão, para falar de ataque alienígena:


“Calamidade, tu viu que diabo foi aquilo que passou cumpade, caiu pra lá do outro lado do rio Minhas vacas entraram tudo no cio

E a fumaça das abelhas de noite queimando a tchara

A água do poço tá salobra os peixe agora “fala” O meu cavalo come e caga tanto que enche uma vala. Parece que o mundo todo ficou doido E eu fiquei de cara pede pra parar só que não para não”


"Pequena Raimunda (Ramona)" é a faixa de número 12, mais uma que desacelera no hardcore, trazendo um HC melódico, e que no final traz um verso de “Surfin’ Bird” dos Trashmen, em letra escrachada, que fala de uma mulher desprovida de beleza, mas boa de outras coisas:


“Olhe só Rodrigo, Rodolfo, Fred e Canisso Feia de cara mas é boa de bunda Olhe só é a pequena Raimunda

Se ela tá indo até que dá pra enganar Se ela tá vindo não é bom nem olhar Ela de 4 fica maravilhosa Na 3x4 é horrorosa”


A penúltima track é a pessadísima "Baile Funky" que vem com riffs que flertam com o trash, trazendo um clima tenso em toda a faixa, que é inteiramente politica, criticando as tretas em boate, egocentrismo, os remédios, as igrejas que abusavam da fé do povo no recolhimento de dinheiro:


“Casca do cerrado chegaram os mortos de fome Sujeira de outra parte que vem pra sujar seu nome Eu te falei que o ladrão que rouba mesmo É bem vestido e eu vi de monte

Essa zoada no telhado é o vento que a vida leva É o pensamento antiquado, te apaga queimando a erva Enraizado fica o dono do pé que finca na terra E faz a ponte

Povo de zé ofensa

É na igreja que o povo esvazia as bolsa Tem quatro santos, três queimando o kunk

Decidindo o destino dos outros como se fosse Deus Atrás da mesa o açougueiro comanda E a intolerância me manda de novo pro banco dos réus”


E finalizando o disco tem a faixa instrumental "Bass Hell" que mescla hardcore com elementos eletrônicos e hip hop, num trap compassado e com riffs de guitarra. A faixa traz sample de The Maxx, da música Cocaine, nessa que é uma das excelentes obras experimentais dos Raimundos.


Gravado no estúdio Sound City que já presenciou bandas do como Nirvana, Red Hot e Rage Again the Machine e com a mão do Mark Dearnley, que trampou, também, no disco da banda “Lavô Tá Novo”, o disco veio pesado e agressivo, e trás de diferença para os trabalhos da banda as letras de cunho social, como “Baile Funky”, por exemplo e maior investimento na sonoridade além da ausência das influências nordestinas nas músicas. Esse é um dos melhores álbuns dos Raimundos, e que 20 anos depois ainda é escutado em volume máximo!


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