A Liberdade Presumida do Eu Acuso!
E lá de Porto Alegre vem o rock pesado da banda Eu Acuso, com letras contundentes trazendo na voz ativa o protesto. No corre desde 2005, com a antiga banda Bleque, os cara têm influencia do heavy metal e o groove do rap e funk, inspirados em Rage Agaist the Machine e Stuck Mojo a banda manda bronca no bom português falando sobre comportamento da sociedade, visão política, denunciando a escravidão imposta pela mídia.
O nome Eu Acuso vem do manifesto homônimo escrito a mais de 100 anos pelo escritor Émile Zola que denunciava ao preconceito e injustiça, em uma carta endereçada ao presidente da França em um marco contra o autoritarismo, o texto foi publicado no jornal L’Aurore.
A banda é formada por Carlos Lots na guita, Sandré Sarreta no vocal, Ale Mendes é o batera, e Marcelo Cougo no baixo e voz. No site oficial da banda é possível ler a seguinte frase:
“A denúncia, a liberdade e a ação fazem parte da filosofia do Eu Acuso!, por isso todas as músicas são licenciadas para livre circulação e reprodução.“
O CD Liberdade Presumida, de 2013 traz dez faixas de puro rock n’ roll, a começar pela faixa A Verdade com a forte letra: “A verdade não vive de murmúrios, deve ser gritada e escrita nos muros”, em seguida o som é Bala Perdida, com seus riffs e letra mais falada, ao estilo da influência hip hop, além de um solo de guitarra, o discurso: “Guerra perdida ataque frontal, nas ruas nos becos encontro mortal. No ar fica o cheiro da pólvora, explode o foguete que avisa a chegada das drogas”.
A terceira faixa é Choque de Ordem, que fala sobre a violência policial bancada por aqueles que querem se manter no poder e excluem as classes não privilegiadas: “Por trás das bandeiras dos choques de ordem, macdonaldização e shoppings. Estão interesses de grana e poder, exclusão para manter privilégios. ” com refrão explodindo: “Tolerância zero nessa terra varonil, a pena de morte já existe no Brasil. A desigualdade para preto e pobre é o racismo que o cinismo encobre”.
O próximo som é Choveu Sangue na Cidade, com um groove e a lembrança do rap e das guitarras de funk, a poesia é uma analogia dos matadouros com a situação do povo mais humilde: “Vermelho do sangue do boi, Boi que vai pra matança. Sangue que corre sem freio, o sol, no varal, a carne descansa”, e também “No meio da noite o açoite, matadouro madrugada. Inteira manhã pela beira da hora pequena a hora mais cheia”. A letra trata de vários elementos da cultura brasileira, como os orixás, o mangue, e o trecho “De tanto espantar varejeira, somente o tambor, meu Senhor, me fez suportar tanta blasfêmia”.
A quinta música é Idade Mídia que acusa a imprensa televisiva, impressa e online de manipulação e distorcer informações, faixa pesada, que traz o metal clássico num vocal equilibrado e foda que vai denunciando: “O espetáculo começou o show não pode parar, se a audiência despencou bota mais sangue no ar. Na hora do jantar muitas mentiras servidas, idade média nas telas de nossas vidas”. A seguir vem Lona Preta, o refrão já mostra o lado que estamos: “Somos todos Sem Terra, não desistimos da estrada. Ocupação lona preta. Um sonho de terra farta”. A canção inicia-se como uma declamação da poesia:
“O ônibus estrala e não desiste da estrada.
Estou reconhecendo o cheiro do caminho,
Muitos que neles seguem e já foram machucados,
Ainda trazem as marcas das balas de borracha.
Quem luta não é triste e não está só,
A terra é o destino do amanhã.
Uma voz ecoa sobre o campo ocupado,
Três salvas de foguete e já estamos lado a lado”.
Após ouvir os tiros de rojão, as guitarras, seguidas da bateria fulminante começam a musicar o poema. O refrão se apresenta como um grito de guerra, o recado é dado: “A luta por justiça, não é aventura, não falta braço pra virar a terra. Seguir em frente e mudar estruturas, plantar sementes pra brotar bandeiras”.
Mano Lugar é o próximo, sétima música do Liberdade Presumida, narra a trajetória daqueles que tem como teto uma ponte ou viaduto: “Mano lugar que mora embaixo da marquise, porta de vento telha de sol piso de entulho”. O rock n’ roll que se lembra daqueles que moram em cima do próprio sapato.
Oitava música, Não Conte a Ninguém, que critica a pedofilia causada por sacerdotes, principalmente aqueles que se dizem católicos: “Puritano, sorrateiro, veste o lobo a pele do cordeiro. Sorrateiro, puritano, o silêncio capital do vaticano. ” A ira explode no instrumental e nos gritos que antecedem a fortíssima letra:
“Em nome de Deus aceite o perdão.
Que vem em minhas mãos
Não conte a ninguém.
Em nome do pai e do filho, amém.
A fome que vai ser martírio, sêmen.
Segure seu pranto.
A dor dos que sofrem no corpo
O amor do espírito santo.”
Na faixa Olho por Olho/Sangue por óleo, a letra pesada e forte teor de protesto e denúncia falando sobre a disputa do petróleo no oriente médio, num vocal acelerado e mais falado alternando com timbre de voz mais gritada, mostrando a força do heavy metal, principalmente no trecho:
"Mil e uma noites de conflitos em gaza!
Contra a miséria, contra a ganância e a morte. A lua se ergueu nas ruas, onde o povo é mais forte. Ditaduras, dinastias, talibã, tribos e clãs. Garantia de energia barata e a dança com o grande satã. Mil e uma bombas nos conflitos em gaza!
É olho por olho / sangue por óleo É o dente torto da guerra, poder e ódio."