top of page

A Transpiração Continua e Prolongada do Charlie Brown Jr


Estamos em 2017 e o disco de estréia dos manos de Santos completa 20 anos. O Charlie Brown Jr chegou chegando em seu primeiro álbum, num estilo mais debochado, porém com uma originalidade pouco vista, que buscava misturar o o rap, ska e hardcore, e que mais tarde viria a influenciar diversas bandas que. O disco contém 15 faixas, dessas, 3 são vinhetas, e 6 tocaram nas rádios, num tempo em que as rádios tocavam rock.


Abre-se o álbum Transpiração Continua Prolongada com a faixa “Tributo ao Frango da Malásia”, uma vinheta que mostra o lado cômico da banda, que mais tarde viria a ser marca registrada da positividade e good vibration do Chorão:


“A banda Charliie Brown Jr. Orgulhosamente apresenta O canto do pré-histórico, o endividado, o extinto: O último frango da malásia.”


A faixa 2 foi uma das que estouraram nas rádios, “O Coro vai Comê!”, ainda no estilo debochado Chorão apresenta várias gírias do skate, como: biron, bacon, xotonson, travazon, rasga rasgazon, como o próprio Chorão explica é a lingagem do “on”, “se o cara tem a base, ele tem muita bason!”, o música segue num ska:


“Meu, tu não sabe o que aconteceu! Os caras do Charlie Brown invadiram a cidade! Junte sua mãe, seu cachorro e sua sogra Traga todo mundo o coro vai comê! Give it up hey! Do you really wanna do it boy”


Outro sucesso de rádio é a faixa “Tudo que Ela Gosta de Escutar”, a canção apresenta elementos praieros, num dia e refrão com riffs mais acelerados, na letra, autobiografica, Chorão divide a experiência de ser um pobretão e namorar uma mina melhor pocisionada economicamente:


“Fim de festa olho pra ela, ela sorri pra mim Me secou a noite inteira Ela só pode estar afim Ela tem carro importado e telefone celular Eu só tenho uma magrela e um ap. no bnh Eu falo tudo que ela gosta de escutar Deve ser por isso que ela vem me procurar Eu falo, eu falo tudo que ela gosta de escutar Deve ser por isso que ela vem me procurar”


A quarta música é “Sheik”, é pra eu ser repetitivo, essa foi outra que tocou muito nas rádios, misturando rock e ragga, o tom de deboche continua, ao contrário dá faixa anterior, nessa os papéis se invertem, agora é narrado a vida, nada difícil, de um homem de muito poder aquisitivo, o Sheik:


“Eu sou o Sheik, tenho mais de mil mulheres no meu harém Minha barraca tá armada e não tem pra ninguém Com meu petróleo tua máquina funciona bem Vou te comprar pro meu harém! Porque eu só moro em cobertura, só ando em limousine Um milhão no porta-malas, cinco minas de biquíni Eu sou o Sheik, Sheik, Sheik Vou te comprar pro meu harém!”


Quinta faixa é o instrumental “Hei! Arreia” que é extremamente bizarra, no bom sentido, numa espécie de celebração aborígene. E o disco segue com “Gimme o anel”, que pra variar tocou muito nas rádios, a faixa é mais pesada, tem a forte groove do baixo, e a influência do rap metal, a poesia descorre sobre um cara falido que consegue o que quer com uma burguesinha:


“Ela riu de mim disse que talvez Se eu fosse um cara de nome Ou se eu fosse um burguês Eu disse calma neném Eu tive um dia difícil Dinheiro você já tem Eu te ofereço meu míssil

Do you wanna gimme girl? Do you wanna give me o anel? Do you wanna give me girl? Do you wanna go pro motel?”


Nova vinheta, “Molengol´s Groove”, onde há a estreia (pelo menos registrado em disco) do beat box do Champignon, que viria a ser também uma das marcas registradas do Charlie Brown Jr. A música de número 8, é “Aquela Paz”, novamente o beat box do Champignon, peso na guitarra do Thiago Castanho, a forte presença do rap, num discurso falado:


Quinta Feira”, música que, já sabe né? Lembrada pelo baixo marcante de Champignon, numa mistura de reggae e rock e que traz um forte refrão:


“A vida é feita de atitudes nem sempre decentes Não lhe julgam pela razão, mas pelos seus antecedentes

É quando eu volto a me lembrar Do que eu pensava nem ter feito Vem, me traz aquela paz Você procura a perfeição e eu tenho andado sob efeito, mas Posso te dizer que eu já não aguento mais Desencana, não vou mudar por sua causa não tem jeito, mas Quem é que decide o que é melhor pra minha vida agora?”


A faixa 10, fecha o “lado A” do albúm, “Proibida pra Mim (Grazon)”, talvez o maior sucesso da banda no disco de estreia, o que evidentemente fez a canção tocar muito nas rádios, a letra foi escrita pra Grazon, ou melhor para Gaziela Gonçalves, na epoca namorada e que mais tarde viria a ser sua esposa, o ritmo segue num ritmo acelerado com linhas marcantes do baixo numa especie de ska-punk:


“Ela achou meu cabelo engraçado Proibida pra mim no way Disse que não podia ficar Mas levou a sério o que eu falei

Eu vou fazer de tudo que eu puder Eu vou roubar essa mulher pra mim Eu posso te ligar a qualquer hora Mas eu nem sei seu nome!

Se não eu, quem vai fazer você feliz? Se não eu, quem vai fazer você feliz? Guerra!”


A música “Lombra”, faixa 11, a mais pesada do disco, e que inicia o “labo B” do disco, ou seja, aqui as músicas já não foram vinculadas á rádio, sendo assim parte do Submundo do Som. Lombra traz a participação do rapper PMC e o dj Deco Murphy, conhecidos pelo sucesso “Corre que lá vem os Homi”, Lombra é uma faixa rap, que Chorão e PMC dividem as rimas:


“Poucos acertos, muitas noites de perigo Pela história fui salvo, mas perdi grandes amigos Na noite tudo se pode, horas abertas são O cenário ideal pra quem vai na contramão

Você diz que é mafioso e que é ladrão Faz tudo errado e os outros pagam por você, meu irmão! Você diz que é mafioso e que é ladrão Faz tudo errado e os outros pagam por você, ladrão!

Ele adorava uma arma Todo mundo ele aloprava Com seu jeito meio clepto de ser Zé bonitão, todo função, rambo vilão Herói da gang juvenil, pesadelo do Brasil”


A música de número 12 foi composta pelo Champignon, “Corra Vagabundo”, outra na pegada rap metal, com linhas de baixo pesadíssimas, Chorão e Champignon fazem o vocal:

“Corra vagabundo olha a polícia aí! Porque eu não quero ficar na cadeia o dia inteiro a noite inteira o dia passa na doideira também passa do ponto Chegamos onde deveria ser Vagabundo deitado, mão na cabeça, identidade Não minta não porque, se não vai ser pior pra você!

Corra vagabundo olha a polícia aí! Corra vagabundo olha a polícia aí! yeah…”


A próxima faixa é “Falar, falar…” aqui o clima de deboche diminui e a letra trás uma critica mais séria, numa daquelas faixas que o hibridismo musical se faz presente nos 2 minutos e 48 segundos da faixa, que passa pelo hardcore, ska e hip hop, tudo mesclado:


“Se perguntarem pra você O que falar sobre si mesmo, o que dirá? Dirá que sabe o que não sabe Tudo aquilo que jurou nunca dizer, dizer porquê? pra que? Se perguntarem pra você Se é com a empregada ou com a patroa, o que dirá? Se tu lucrou com a vida boa, o que dirá? Se vai mandar, se vai levar, se vai trazer Se perguntarem pra você o que falar sobre si mesmo, o que dirá? Dirá que sabe o que não sabe! Tudo aquilo que jurou nunca dizer, porquê? Você gosta de falar, falar, falar! Então me diga sobre o que que você fala bem?”


A música 14 é “Festa”, a exemplo da música anterior, também trás o hibridismo característico do Charlie Brown Jr, os refrões com riffs mas pesados trazem:


“Hoje eu vou dar uma festa Você vai ser meu convidado Com mini-ramp, com gente decente Sem Zé-Mané, sem pau-no-cú do lado Hoje eu vou dar uma festa Com muita erva, muita perva e muita cerva Hoje eu vou dar uma festa Cai na noite, manda bala Mete a cara, tudo fala Terça, Quarta, Quinta-feira, na doideira a noite inteira Você perde a liberdade, vira alvo da cidade”


A faixa 14, “Escalas Tropicais”, traz participação especial da banda Lagoa 66, que surgiu no rock em 1986, criada pelos amigos Tadeu Patolla e Rogério Naccache, e leva esse nome devido a ser um endereço de Patolla na Vila Mariana, Rua Borges Lagoa 66. A caracteristica da música é a influencia direta do Lagoa 66 que traz um rock anos 80 que é misturado com o estilo debochado do Chorão e a ira punk do rock anos 90.


“Um lindo dia, céu azul e coisa e tal Viajando no Eugênio na lagoa, na moral Eu vou comendo a vontade, eu vou jogando carteado Eu faço a boa no velho! Cá! coitado! Tomo aulas de dança no salão Eu me bronzeio no sol de verão Sei que sereia é sereia E que piranha é piranha Mas no fundo da rede a gente sempre se engana”


E pra encerrar esse (puta) albúm de estreia, a última faixa, a de número 15, leva o nome da banda, “Charlie Brown Jr.”, a música mistura hardcore com os scratchs do rap, em mais uma letra autobiográfica de Chorão:


“Muita gente riu de mim Quando eu disse que podia fazer o que quisesse da minha vida Foram muitos anos de vivência Muitos baldes de água fria na cabeça Muitos goles a mais, alguns passos para trás Só flagrando a cena Eu aprendi o bastante pra poder sorrir Pois ainda estou aqui, tentando conquistar o meu espaço Com muito pouca condição Mas a cabeça não abaixo Sou Charlie Brown, cuzão! (Tcharolladrão)

E o que tenho de bom é do melhor Sou o que sou, sei porque sou Aonde estou e o que quero Sei com quem devo estar E o que da vida espero Tribo que não tem medo do perigo skatista Vagabundo, batizado, favelado Muitas vezes culpado sem ser julgado Passei por isso, da vida sei o que espero, yeah

Deixe estar, que eu…que eu sigo em frente”


A estreia do Charlie Brown Jr teve destaque pelo fato do álbum Transpiração Continua e Prolongada ser de faixas curtas, terem peso e atitude e uma identidade própria, que não havia em outras bandas, por mais que o CBJR tenha como inspiração Planet Hemp, O Rappa, Raimundos, Chico Science e Nação Zumbi e Mundo Livre S/A (como a banda agradece no encarte ao Planet, Hemp Family e o MLSA) o estilo que a banda seguiu foi original e único. O álbum vendeu mais de 250 mil cópias e recebeu o prêmio de disco de platina.

Confira abaixo o disco na integra:

No Submundo (recentes)
Arquivos
#Submundo_do_som
No tags yet.
bottom of page