O Ano do Macaco de Black Alien
Gustavo Almeida Ribeiro, vulgo Black Alien, uma das maiores vozes do rap carioca, e também nacional. Integrou a dupla Speed Freaks com o saudoso Speed, e teve passagem pela banda de rock n’ roll Planet Hemp. Também encabeçou um projeto denominado Reggae B, ao lado do paralama Bi Ribeiro. Atrajetória fantástica de Black Alien rendeu um documentário chamado Mr Niterói – A Lírica Bereta (que pode ser conferido aqui).
As vésperas de lançar seu segundo álbum solo, o Babilon by Gus, volume 2 – No Princípio era o Verbo, o Submundo do Som vai viajar na primeira obra de Gustavo Black, o Babilon by Gus, colume – O Ano do Macaco, um dos melhores discos brasileiros, em todos os sentidos e estilos, confira ai a poesia do compositor, cantor, rapper, músico e qualquer outro adjetivo do Alienígena.
2004 – O Ano do Macaco
Gustavo Blacl Alien assina contrato com a gravadora Deck Disc e em um mês grava o disco, com uma sofisticada produção e letras de forte impacto, a produção ficou a encargo de Alexandre Basa, ligado ao Instituto e Mamelo Sound System, que fez metade das bases do disco. Black Alien vem no estilo gangsta ra, raggamuffin e outkast. A capa do álbum traz uma imagen de Gustavo em sua infância, com aproximadamente 10 anos de idade. O titulo da obra é inspiro em um nome de disco de Bob Marley, o Babilon by Bus, o ano do macaco se dá por ser o ano de 2004, que no calendário chinês é considerado como o ano do primata.
O disco abre com a faixa bilinguie Mr Niterói, que faz um panorama entre ricos e pobres e o que é a humildade, saber chegar e sair de um lugar: “You call me mister hood boy, call me mister Niterói, you call me superhero. Em inglês super-herói/ Entre pobres nobres e os ricos esnobes, eu não vou apertar a mão de quem quer que seja, o lobby não é meu hobby, platina, ouro branco com brilhantes craveja, brinda com champagne, tequila e cerveja”. A segunda faixa é Caminhos do Destino, música que ganhou vídeo clipe, sendo muito vinculado na saudosa MTV, “Mil novecentos e dois mil e quatro, Babylon by Gus, volume um, o ano do macaco, Mister Black”, anuncia a música em seu inicio, que se trata de um rap acelerado, e com linguagem punica, numa lírica poética de escrita, fala sobre amizade, ou melhor, sobre a falta de amizade, quando um “amigo” trai o outro, como diz bem o trecho:
“Se você me trai e vem dizer que é meu amigo Eu corro atrás, eu instigo e investigo Se você pensa em me passar a perna E não tem noção do perigo Logo mais não serei eu Quem vai acertar as contas contigo”
Vale lembrar que a letra faz uma homenagem a dois nomes da música brasileira que se foram precocemente, Chico Science e Sabotage, no trecho “Francisco França, Mauro Matheus, nobres e plebeus que foram ao encontro de Deus, a eles que eu me refiro, acidente estúpido ou tiro, me tiraram os amigos e é neles que eu me inspiro”.
A terceira canção é Babilon by Gus, que leva o nome do álbum, muito tocada na radio Espaço Rap, perita em rap nacional no estado paulista, canção de maior apelo poético do disco: “Minha voz é o instrumento que dá sustento ao microfone. Espírito dos novos tempos, o sentimento. O mar a vela e o vento, pra navegar na Babilônia de asfalto e cimento. Infelizmente eu só lamento. Sem agradecimento. Dos filhos deste solo és mãe gentil, Black Alien seu rebento.”
A quarta faixa é um ragga/rap U-Informe “Raggamuffin'pam! No homem de uniforme”, que fala sobre os informantes da policia, talvez a letra de maior teor de critica social: “Foi instintivo, ele sacou da pistola mas não mostrou o distintivo, agora a jovem esposa é viúva de vivo, seu marido encontra-se em estado vegetativo, sentença, a presença ostensiva de amadores na ativa, prova viva, de que existe a morte e os convivas”. Em seguida Black Alien mostra o seu lado romântico na canção apoixonada Como Eu Te Quero, com juras de amor, a canção segue uma melódica:
“Ah! Minha linda!
Eu te amo
Ah! Meu Deus!
Como eu te quero
Onde cê tiver eu vou
Você sabe que é sincero...”
A próxima faixa é um extra punk para um extra funk, literalmente, o nome da faixa é esse mesmo “Umaextrapunkprumextrafunk” (ufa!), é uma música mais animada, a voz acelerada de Gustavo em cima de uma base no estilo speed também, Black Alien dispara seu canhão de rimas: “Telas grandes nos seus lares, Pequenas nos seus celulares, através delas vejo tudo ir pelos ares, vou vender ingressos para o show do fim do mundo a preços populares. Vâmo por partes: condecorado por bravura, filho da ditadura, the peace is green por água pura pra geração futura, ouve o coração mais alto quando ele murmura, tenta te livrar da morte prematura”.
Chegamos a sétima faixa é Estilo do Gueto, um rap estilo old school: “Você se assusta com o barulho da bala? Eu aprendi desde moleque a adivinhar qual é a arma, isso não é novidade nessa parte da cidade, a violência é comum e a paz é raridade”. Enquanto que a música seguinte, volta a acelerar o disco, o rapper brinca com o timbre de sua voz, como os raggamen na poesia que diz:
“Primeiro de dezembro - Ele planejou o assalto
Quinze de dezembro - Ele disse: "Mãos ao alto!"
Vinte e cinco de dezembro - Ligou pra mãe de Bangu 4
Você enxerga mais longe a gaivota que voa mais alto”
A música nove traz reflexão para o álbum, num tom mais calmo, como que viajando na nave mãe o extraterrestre Black Alien manda em “Na segunda Vinda”:
“Ah! O seu time campeão, sua escola na avenida
Irmãs e irmãos, talvez numa segunda vinda
O povo não estará ao Deus-dará
Devil wants to take control
Government is a murderer
Only you can sell your soul now”
A na faixa seguinte, a de número 10, Pericia na Delicia, o tom de romance retonar, onde Gustavo descreve uma situação onde esbanja todo seu charme: “Princesa, se me permite, Gustavo de Niquiti, Confortável aqui perto na suíte, Presidencial, é como eu me sinto e tal, Você é uma Deusa, que beleza, tipo Afrodite”, a próxima canção o Alienigena mostra o motivo de sua missão, em rap mais anos 90, America 21: “Sou Gustavo, codinome Black Alien, patente primeiro-tenente, Vim vingar os moradores daquele edifício, Interestelar setenta e dois, esquadra número sete, Na Terra em reconhecimento, aqui desde o início, Se tem disposição, junte-se a mim, Senão, sai da minha frente e não atrapalha o meu serviço, De qualquer maneira, vou passar por cima, Na pressão que tem a rima, não há nada de pessoal nisso...”
E fechando o disco, a faixa de número 12 é a agitada From Hell do Céu, o estilo acelerado de canto jamaicano de Black Alien continua forte e presente, encerrando assim um dos melhores discos de rap que já ouvi, narrando suaviagem espacial que resultou em uma passagem pelo nosso planeta Terra: “Eu disparo e paro no infinito, reabasteço, sigo em frente, é bonito. Viajo pelo espaço e o que eu vejo eu deixo escrito, e só Jah Jah pode me dar um veredicto”
Abaixo o disco completo, direto do youtube:
Esse texto também foi publicado na Revista OBVIOUS, clique aqui para conferiri.